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Tintas para a História
Por Sergio Cruz Lima - [email protected]
Era uma vez um menino, nascido dez anos após a Independência do Brasil na antiga Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis. Ele adorava desenhar bonecos e pintar o que via pela frente. Mas os pais do garoto, paupérrimos, e a cidade também era pobre, não entendem nada de arte. Apenas olham e acham bonito.
Por influência de um deputado catarinense na Corte Imperial, o menino que pintava, agora com 15 anos de idade, é levado para o Rio de Janeiro e matriculado na Imperial Academia de Belas Artes. Dentro de cinco anos, o aluno torna-se professor. Aos 21, já percorre a Europa para conviver com artistas franceses e italianos. E, durante oito anos, ele estuda, trabalha, pinta e expõe em Paris, Roma, Florença e Milão. "Serei artista", decide com entusiasmo.
As telas e as cores do novo artista encontram na Bíblia e na mitologia as primeiras fontes de inspiração. Um amigo carioca sugere-lhe que leia a carta de Pero Vaz de Caminha. Nela, diz, o pintor encontrará o grande tema de sua pintura. Porém, uma concepção religiosa da vida orienta o artista para o início cristão da História Pátria. A "Primeira Missa no Brasil", pintado entre 1859 e 1861, não é apenas mais uma tela. O quadro vai para o Salão de Paris, em 1861. Quinze anos depois será sucesso na Exposição Internacional de Filadélfia.
No mesmo ano de 1861, já consagrado no Salão de Paris, o menino que pintava retorna ao Brasil. Consigo amealha uma inestimável bagagem artística. Na capital brasileira, o prestígio é tanto que o ministro da Marinha o contrata como pintor da Guerra do Paraguai. O teatro das operações será fonte de inspiração para um grande número de painéis, entre eles, os famosos "Combate de Riachuelo" e "Passagem de Humaitá". Pintor preferido de dom Pedro II, o imperador confere-lhe a Imperial Ordem da Rosa.
A história do Brasil descobre, em Vitor Meirelles de Lima, o cronista que coloca nas tintas a religiosidade e o patriotismo de sua arte. Se ele foi o primeiro dos pintores nacionais a ser escolhido para participar do Salão de Paris, como escrevi, e é verdade, ele também foi alvo de críticas acerbas e contundentes, despertando fortes polêmicas em um período em que se acende a disputa entre os pintores ditos acadêmicos e os primeiros modernistas. Para o bem ou para o mal, Meirelles foi sempre um acadêmico, mas o acadêmico versátil e eclético da fase mais influente e mais contraditória do Academismo, que se definia como uma complexa mescla de elementos clássicos, românticos e realistas. Com o advento da República, em 1889, por ser sensivelmente vinculado ao Império, o pintor cai no ostracismo. Desencantado, pobre e abandonado, Vitor Meirelles de Lima morreu no Rio de Janeiro num domingo de Carnaval, em 22 de fevereiro de 1903, aos 71 anos de idade.
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